Ser gay é ser feliz!
Assumir a homossexualidade nos dias de hoje é muito mais fácil do que alguns poucos anos atrás. Calma, não precisa ter um piti! Eu vou te ensinar o caminho da felicidade.
No meu tempo (e olha que não sou tão tia assim) era um suplício assumir ser gay perante o universo. Assumir para os familiares então era algo praticamente impossível!
Na verdade, todo mundo sabia e tolerava, mas eram poucos aqueles que te aceitavam numa boa, sem preconceitos ou neuras.
Minha “assumida” aconteceu de uma maneira muito tranquila. Dentro de mim-eu-mesmo jamais tive qualquer problema com minha opção sexual. Sempre achei absurdo os malabarismos que meus amigos faziam para tentar esconder o que era óbvio, evidente, palpável. E achava mais ridículo ainda os pais, mães e afins que não aceitavam a opção do filho, tentando enganar-se o tempo todo, desperdiçando muitas oportunidades para enfrentar a questão e conviver com harmonia, equilíbrio e respeito.
Na verdade, o que os pais temem é a ridicularização do filho perante a sociedade. Ninguém quer ter no seio da família uma “bixalôca” ou um “michê” declarado.
Os próprios gays têm preconceito contra os gays. Vide o pavor que alguns têm de serem vistos ao lado de uma “Carmem Miranda”, por exemplo. Aliás, toda pessoa – independente de sua opção sexual – que vive de maneira espalhafatosa acaba caindo no ridículo, tornando-se uma companhia desagradável.
Bom, voltando a falar da minha libertação sexual, na atual existência percebi que eu era gay (de novo) aos 12 anos de idade. Senti que eu era diferente dos meus amiguinhos de colégio, notei que minha sexualidade aflorava ao deparar-me na presença de alguns professores ou alunos mais velhos.
Aos 14 anos tive o meu primeiro contato com o sexo. Foi com um tio, alguns anos mais velho do que eu, que me iniciou na arte dos carinhos, dos toques físicos e dos primeiros passos na descoberta do prazer (não houve abuso da parte dele, não houve consumação sexual, apenas carinhos táteis e orais). Foi emocionante aprender a dar o primeiro beijo. De língua.
Aos 16 eu já havia brincado com alguns rapazes, mas nada levado a sério. Foi uma fase mais de descobertas de prazeres juvenis.
Finalmente aos 18 conheci meu primeiro namorado. E assim ocorreu o divisor de águas da aceitação do que eu era perante a minha família. Numa noite de verão, namorando no meu quarto na ausência de minha mãe – que havia ido a um culto religioso –, eu estava curtindo numa boa meu companheiro. Havíamos acabado de fazer amor e dormíamos a sono solto em minha cama estreita. Sim, mamãe chegou e nos pegou abraçados, seminus, felizes e distantes no mundo de Morfeu.
Sem fazer barulho, minha mãe deixou o quarto e ficou na cozinha lendo sua bíblia, aguardando que um de nós acordasse. Lá pelas tantas me levantei e ao vê-la na cozinha percebi que eu teria muito o que explicar àquela senhora. Com lágrimas nos olhos, ela me disse, em um tom de voz baixo e lamurioso:
“Júnior, eu não consigo entender como funciona essa relação de vocês. Mas se você gosta desse rapaz, eu te peço somente que você faça a coisa certa: namore, seja fiel, respeite e se dê ao respeito.”
“E tem mais uma coisa”, ela continuou, chorando, “Sei que nesse mundo de vocês tem muita coisa ruim. Por favor, te peço que você jamais se prostitua, nunca use drogas e faça o possível para não ferir quem você ama. Se for assim, eu te aceito, aceito o rapaz e desejo que vocês sejam felizes. Afinal, você é o meu filho!”
Minha mãe conversou outras coisas comigo e também me pediu para que eu não contasse nada para minhas irmãs, que eram crianças na época. Tudo deveria ser revelado no tempo certo.
Essa conversa com minha mãe, uma mulher muito simples, porém dona de um imenso coração, foi a base do alicerce que eu criei para mim-eu-mesmo conviver com o preconceito e a intolerância da maioria das pessoas.
O mais incrível é que eu nunca senti o peso do dito “preconceito”. Justamente por eu sempre ter sido muito claro a respeito daquilo que sou, penso, sinto e vivo no meu dia a dia.
Sempre deixei claro – para todos aqueles que cruzaram meu caminho – o que eu era. Sempre respeitei a tolerância e o espaço alheio, exigindo em troca que as pessoas respeitassem minha opção, geralmente ensinando-as que eu era tão “gente” quanto elas e que não havia diferença alguma de um relacionamento homo para uma relação hétero.
Então, para você que ainda se esconde, o que eu quero te passar é o seguinte: o diálogo é a chave de tudo. Em seguida vem o respeito para consigo mesmo. Ter paciência para com o próximo é fundamental, pois muitos ainda nos vêm como ETs.
Ao demonstrar que não há diferença alguma no convívio diário e ao desmistificar esse maldito estereótipo de que “toda bicha é louca, não pode ver homem que já dá logo encima, que todo veado dá o cu”, entre outras baixarias machistas e preconceituosas, você acaba ganhando o carinho e a simpatia real daqueles com quem você convive.
Para assumir-se numa boa, em primeiro lugar encontre uma pessoa de confiança, de preferência sua mãe ou sua avó (as mulheres da nossa família geralmente são as mais indicadas e compreensíveis), e juntos, aos poucos, vocês acabarão por mostrar aos demais familiares o quanto tudo em você é “normal”.
Se você já tem um namorado e ambos não se assumiram ainda principalmente para as famílias (acho tão medonho quando vejo algum amigo dizer aos pais que o “grude” que está com ele é só um “bom” amigo...), agora é um bom momento para ambos unirem as forças e conversarem com seus pais. O choque pode até ser forte para a família, mas quando a mãe e o pai descobrem que seu filho está ao lado de uma pessoa decente, honesta e responsável, e que o filho está feliz, acredite... tudo fica muito mais fácil e a aceitação é menos “dolorosa”.
Não se esconda. Não vale a pena. Viva plenamente aquilo que você é. E isso vale pra tudo na vida e não somente para a sua sexualidade.
Se os amigos não te aceitam ou te ridicularizam, acorde, pois eles não são seus amigos de verdade. Dispense-os. E por pura afinidade você vai encontrar amigos fiéis e verdadeiros.
Se você acha que contar pra tua mãe ela vai ter um enfarte, uma síncope, esqueça... pois a nossa mãe sempre, sempre sabe.
Se você acha que teu pai vai te expulsar de casa ao saber que o filho “queima a rosca”, procure o apoio da tua mãe e se não for possível se abrir com ninguém, busque o mais rápido possível a tua independência, o teu espaço e viva a tua vida, pois com o tempo, seus pais te aceitarão, se houver amor real dentro do seio da família.
A mídia tem dado uma super contribuição para melhorar nossa imagem junto a sociedade de um modo geral. Mas é você que tem que fazer acontecer! Primeiro, assuma-se para si mesmo. Depois, se achar que não tem força o suficiente para encarar a parada sozinho, procure – através do diálogo franco e direto – apoio de alguém em que você realmente confia.
Você verá que aos poucos, naturalmente, o seu próprio comportamento agirá em seu benefício e proteção e ninguém mais vai conseguir te ferir com palavras ou atos depreciativos e ignorantes.
Ser gay, meu amigo, acima de tudo é ser feliz. E viver em estado de felicidade plena só depende exclusivamente de você.
Afinal, você não está sozinho. Então, vamos levantar a bundinha da cadeira e dar finalmente o primeiro passo?
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