Glamour, Prostituição, Badalação e Decadência - as transformações da #RuaAugusta

A Rua Augusta é o epicentro da diversidade cultural de São Paulo, conhecida pela vida noturna agitada, recebe diariamente grupos que não tem nada em comum a não ser o desejo de se divertir na noite mais democrática da cidade. A região já foi tema de músicas famosas, foi cantada por nomes como Os Incríveis, Mutantes, Ronnie Cord e Raul Seixas. Mas a variedade da via mais camaleoa da cidade vai muito além da questão rock'n roll. A Augusta é um dos poucos lugares de São Paulo em que você encontra de prostitutas a emos, passando por punks, fashionistas, travestis, rockeiros, gays, machões em busca de um programa...Todos acabam se encontrando no Baixo Augusta, repleto de nights clubs, boates alternativas, botecos, casas de shows, teatros...



Diversidade de grupos marca a noite da Augusta

A região vem mudando de perfil com o passar dos anos. Durante o século XIX, a Rua Augusta nada mais era que uma trilha ligando uma chácara - na região da Rua Dona Antônia de Queiroz à atual Avenida Paulista. No fim dos anos 50, a via se transformou na rua dos endinheirados, com um comércio de produtos finos. Nas duas décadas seguintes, os cinemas e lanchonetes da região viraram um atrativo para os jovens.

A inauguração do Espaço Unibanco de Cinema atraiu jovens e cinéfilos

Após o auge, veio a decadência. A região se tornou a rua da prostituição em São Paulo e, com isso, começou a desvalorização imobiliária. Com os baixos aluguéis se abriu um espaço para o surgimento das casas de prostituição.



 


Clubes Masculinos que se espalharam pela rua durante a desvalorização imobiliária.


O jornalista Xico Sá declarou ao portal Ego que a Augusta é uma rua em permanente transformação e que a tão famosa zona de meretrício é historicamente nova, ganhando força já no final dos anos 80 - antes era uma rua chique de Sampa, consagrada pela estética da Jovem Guarda.
"Dos 80 para cá vive altos e baixos. No início da invasão dos descolados, achei que iria rolar uma substituição geral, saindo os inferninhos e entrando as boates modernas. Não foi isso que aconteceu". O que de fato aconteceu foi a coexistência pacífica de todos esses grupos distintos, "a completa tradução" do espírito paulistano.






Skatistas, Dançarinos de Tango e Fashionistas: todos se encontram na via mais democrática de São Paulo

 
O avanço das casas alternativas tem como marco a inauguração do Vegas Club, em 2005, que marcou a entrada de um novo público jovem, e a confirmação da Augusta como point dos descolados da cidade. Casas como a Outs, Inferno e Sarajevo engrossam a fama da região. A invasão dos modernos contribuiu para a revitalização da área que além dos novos clubes, também recebeu hotéis e mercados.


Vegas Club precursor das casas noturnas que atraíram os modernos para a Augusta.

 
E as mudanças não param por aí. Com as especulações do mercado imobiliário, a Augusta corre o risco de perder o seu principal atrativo: as garotas de programa.

Clubes Masculinos estão ficando escassos na Augusta.

Os clubes masculinos estão vindo abaixo, e no lugar serão construídos edifícios residenciais. Segundo a Folha de S. Paulo de 20/02/2011 as garotas de programa que trabalhavam nas casas de prostituição demolidas estão migrando para a Zona Norte, Sul e interior do Estado. As que permanecem na Rua Augusta trabalham nos clubes masculinos que ainda não foram derrubados.

Clube de Strip as822 ao lado de construção de Prédio Residencial

 
Em pesquisa realizada nas redes sociais, Orkut e Facebook, as opiniões se divergem quanto ao assunto. Enquanto alguns acreditam que é possível conviver de forma harmoniosa com as casas noturnas, outros são contra o fim da Rua Augusta como centro de agito e de badalação.

Enquanto se discute o assunto, oito edifícios residenciais já estão sendo construídos em um raio de 1,5 km entre as ruas Bela Cintra, Manuel Dutra e Álvaro de Carvalho. O processo vai levar à região, ao longo dos próximos dois anos, mais de 2,5 mil moradores, sendo em sua maioria casais, estudantes, pessoas que moram ou desejam morar em apartamentos menores e mais perto do centro e da região da avenida Paulista, por razões de proximidade ao trabalho e aos estudos e que demoravam muito no trânsito e procuram uma região que tem tudo nas proximidades.


Terreno na esquina da Rua Augusta com a Dona Antonia de Queirós sendo preparado para receber prédio residencial.

 A forte procura provoca valorização da área que também atinge os imóveis antigos. A construtora Esser comprou um espaço na esquina da Rua Augusta com a Rua Dona Antônia de Queirós, e começou a erguer um prédio de 16 andares com duas torres residenciais. No local havia um casarão de 1913, um estacionamento e uma galeria de arte. De acordo com moradores da região, os novos vizinhos terão um maior poder aquisitivo. Assim, o comércio local terá que se adaptar aos gostos, preferências e modos de consumo.


Construção de edifício foi responsável pela demolição de casarão de 1913.

Essas mudanças poderão ditar novas regras para o comércio local, e desde já tem dividido opiniões dos paulistas apaixonados pelo “Baixo” Augusta. Segundo o cabeleireiro Cláudio Sousa, que trabalha na região há 12 anos, o valor dos imóveis já aumentou consideravelmente: “Só espero que não comprem onde eu trabalho”. Ofertas de compra para os comerciantes surgirão conforme o desenvolvimento da região, uma vez que os edifícios com cerca de 40 apartamentos, darão um lucro muito maior às construtoras que ‘comandam’ o mercado imobiliário em São Paulo, considera o cabeleireiro.
Para a jornalista Adriana Fegyveres, 34, que mora na Rua Augusta há um ano, mudanças são bem vindas desde que atenda às necessidades de hoje, como policiamento e limpeza urbana. Ela diz que “é legal dar uma revitalizada, mas descaracterizar não rola. A Augusta é o lugar mais democrático da cidade”, conclui.
Já para o comerciante José Santiago, dono de uma tradicional rotisserie que funciona há 54 anos na Rua Augusta, as promessas para revitalização e urbanização são boas e bem vistas, porém, ainda não as viu saírem do papel.

Contatos foram feitos com a prefeitura de São Paulo para que ela se posicionasse sobre as mudanças que vem ocorrendo na região, porém, nenhuma resposta foi obtida até a publicação deste post.

Confira mais imagens da Augusta:



































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