A camisa de vênus

Todos os dias, por volta das seis da tarde, Vênus deixa suas redes de lado e abandona por algumas horas seu casebre arrumadinho para exercitar as maravilhosas pernas e um corpo mais do que perfeito, perambulando na imensidão das areias fofas da famosa Ilha Comprida.

O traje de passeio é sempre o mesmo: um calção azul puído, ancestral, sem nada por baixo, e uma camisa preta onde se lê em letras brancas garrafais, na altura do peito largo, definido, esculpido:

XUPA's?


Assim mesmo, com “xis”.

Vênus, ao contrário do que você poderia supor, não é aquela mulher estonteante, mas sim, um belo exemplar de pescador caiçara de fazer qualquer bambee se escalpelar de tesão e desespero para tê-lo nem que fosse por trinta segundos.

O rosto quadrado e fechado era capaz de impor uma careta de poucos amigos, ao mesmo tempo que seu olhar longínquo e sonhador fazia qualquer um implorar por aconchegar aquele macho num abraço carinhoso, por horas e horas e horas.

Olhos negros, vívidos. A boca morena, de lábios na proporção exata para um beijo inesquecível, era emoldurada por faces da cor do pecado original. Deixemos de tremer em imaginar aquele rosto real e passemos para o corpo divino.

Ahh, o corpo do pescador que cheirava a peixe misturado com Avanço. Jesus-Maria-José... aquilo – definitivamente – não era humano!

Moldado ao longo de anos e anos de trabalhos braçais na eterna luta do homem contra a fúria das águas durante a intensa busca do alimento e do sustento, Vênus era assim: dono de um corpo moreno tingido de sol, liso (apesar da farta cabeleira de sedosos fios negros, na altura dos ombros imensos), de dimensões e textura e membros e detalhes esculturais que nem em 300 anos de academia alguém poderia atingir tamanha perfeição miguelangeana.

Vênus domina a noção exata do seu extremo poder de sedução. E suas caminhadas diárias servem para colocar o resto da humanidade bambeestica a toda prova.

O itinerário é sempre o mesmo: caminhadas pela praia, partindo do balneário Atlântico, uma parada estratégica em dois “banheirões” no Boqueirão. Talvez uma cerveja no Surf´s, e as antenas ligadas à procura de uma presa mais do que fácil (e que nunca é difícil de se conseguir, diga-se de passagem, tanto para Belos quanto Malditos).

E a trepada do dia era assim mesmo: uma TRE-PA-DA. Nada de ficar na porra das preliminares. Nada de romantismo. Nada de “dia seguinte”. Nada de trocar números de celular. Aliás, nada de se perder tempo com papos furados e currículos eternamente falsos, maquiados.

Nada da vítima apenas “pagar um boquete”. A fodaria-pau-no-cu tinha que ter começo e fim bem definidos. E tudo rápido, muito rápido!

E isso acontece todas as noites. T-O-D-A-S. Vênus nunca volta para sua toca sem antes dar uma bela metida num macho. Qualquer um, de qualquer tipo, quase de qualquer idade. Sempre fodendo homens com a complacência das estrelas, nada mais.

Então você pode pensar: “Homem de sorte. E daí que o tal de Vênus tem a oportunidade de trepar todos os dias?”

A questão é que Vênus curte o ato selvagem do sexo pelo sexo, sem se preocupar nem um segundo sequer com sua saúde e higiene do seu corpo ou a saúde e higiene e bem-estar da sua presa de ocasião.

O impressionante é que Vênus sabe das consequências de tudo. Tem na ponta da língua, mas escondido no fundo do bom senso, tudo o que se deve saber sobre doenças venéreas, AIDS e outros bichos.

E a resposta era clara e direta (quando perguntei se ele não se importava em se infectar seja lá com que...):

“Trepar, pra mim, é um jogo de poder e de dominação. Eu como qualquer cara que esteja a fim de dar. Sou realmente o tipo do macho-empurra-bosta. Não trepo de camisinha de jeito nenhum e deixo isso bem claro para quem quiser ser fodido pelo meu cacete. E, pode ter certeza: eles querem isso... eles sempre querem ser fodidos de qualquer jeito!”

E você acha que Vênus é um macho ignorante neste e em outros assuntos? Que nada. Homem antenado, acompanha tudo o que acontece no mundo; devora um livro por semana retirado da diminuta biblioteca pública da ilha; lê vários jornais, fica ligado no noticiário da tv de vários canais. É dono de um papear delicioso.

Mas infelizmente Vênus guarda tudo o que aprende para si mesmo (é um cu fazer o bofie se abrir), pois decidira há dez anos não compartilhar mais sua vida com ninguém. Nada da companhia do que restou da família e nem de cultivar amigos, a não ser sua fiel cadela Nina Hagen e as gaivotas e os peixes e as ondas e as estrelas espalhadas no firmamento. E só!

A verdade é que Vênus é um homem solitário por imposição própria e egoísta. Simples assim.

Vênus sabe que tem um vício que jamais será curado: o desejo imenso de pensar e buscar e fazer sexo a todo instante. Sempre sexo com desconhecidos e nada de identidades ou de situações que possam prendê-lo a alguém.

É sempre o mesmo roteiro: tirar pra fora, ser chupado, virar o macho de quatro e foder o rabo alheio nessa posição até gozar. E fim.

O prazer do outro? O bambee que se contente em receber aquela pica... e vá gozar depois em casa, apenas sonhando e delirando com o ocorrido, ora essa!

Isso todos os dias, ou melhor, todas as noites, de segunda a segunda, sem pausa para nada.

Vênus entra em parafuso nas raras noites em que não consegue investir seu pau num cu masculino qualquer – ele pira, pira mesmo! – e meter em mulher... crux-credus... nem pensar! - segundo ele.

(Sinto o coro de bambees entoando nesse momento: “Graças a Deus!”)

Na baixa temporada, Vênus se contenta em comer os mesmos rabos de sempre. Há um rodízio de seis ou sete carinhas (a maioria casados) que se deliciam com seu sexo poderoso.

Já na alta temporada, a fodaria corre solta. Um, dois e, dependendo do pique e do teor alcoólico, até três machos podem ser enrabados numa única madrugada.

É sempre o mesmo roteiro: tirar pra fora, ser chupado, virar o macho de quatro e foder o rabo alheio nessa posição até gozar. Não importa se o cu (es)trepado está limpo, apertado, largo, usado anteriormente, etc. E fim.

Fico aqui pensando. Quantos “Vênus” trajados com suas camisas “Xupa's” estarão perdidos em cada esquina caminhando e caçando e metendo em qualquer um que não consiga resistir aos seus corpos malhados e cacetes portentosos que nunca perdem sua rigidez?

Quantos “Vênus” esclarecidos impõem suas teias de sedução na captura diária de quem pouco se importa com sua saúde, higiene, segurança... já que tudo é válido na hora de uma boa trepada com um macho dos sonhos?

Sem falso moralismo e muito menos hipocrisia, é claro que eu, você e aquele bambee iraniano do outro lado do mundo sonha em trepar com um “Vênus” pescador-caiçara-nativo-tingido-de-sol ao menos uma vez na vida.

É muito difícil resistir aos segundos de tentação explícita em que nos submetemos ao nos depararmos com um ser mágico desses. Mas não deixa de ser um choque tremendo ouvir do bofie dos sonhos um relato frio e seco de suas investidas sexuais, onde o que vale é o “meter e gozar e o resto que se foda”, ainda mais de uma forma consciente, o que é bem pior, você não acha?

Todo bambee que se preza já está mais do que roxoberingela de saber que se cuidar e se proteger e se amar em primeiro lugar está acima de tudo.

E é claro que também todo bambee descolado já caiu uma cacetada de vezes nas graças de uma aventura porreta sem um pingo de preocupação com qualquer regra básica de proteção... em todos os sentidos!

Eu já dei sem camisinha, eu já comi “empurrando bosta” e também já fiz todas as loucuras (conscientes) a que todos nós nos submetemos pelo menos um dia na vida. Foi uma fase.

Eu nunca fui santo. Hoje – por enquanto – estou santo!

Mas o que me assusta, sem dúvida, é saber que homens esclarecidos como “Vênus” (ou talvez eu, ou talvez você) estampam de peito aberto em suas camisas que estão dispostos a tudo por uma boa metida. Sem medir nenhuma consequência física, moral, etc.

E mesmo Vênus deixando explícito como gosta de trepar, antes mesmo de chegar nos finalmentes com suas presas, é impressionante que ainda há uma quantidade absurda de homens que aceitam ser enrabados assim, no “tudo ou nada e foda-se!”

Também fico pensando na montanha de homens casados que dão feito lôcas nas praias desertas e escuras de Ilha Comprida e na mesma noite ainda têm fôlego para comer suas mulheres sem sal, nem tempero.

Fico pasmo ao saber que aquele bambee qua-quá que bate ponto no banheirão do Boqueirão todas as noites ainda tem coragem de aconchegar seu rabo esquálido em dezenas (quando não centenas!) de “Vênus” que pipocam todos os dias na ilha, principalmente na Santa Temporada!

Vênus e sua camisa. A camisa de Vênus: “XUPA's?”

Será que vale a pena?

No final... você decide!

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