Moasoquismo
Você me aborda em cloud computing, maravilhado com minha desenvoltura em palavras e histórias que te excitam e promovem verdadeira revolução no teu pensar. Me elogia, vidrado nos enredos que despejo no ar. Meu ego, antes rígido em ansiedades, torna-se leve e descansa no seio da grande nuvem. Eu rio, tímido, pelo “sucesso” que alcanço através dos teus elogios, onde capto sinceridade.
É estranho ser amado – muitas vezes idolatrado – por homens sem vínculos à minha tosca pessoa. É excitante ser desejado por caras como você, rapaz distante, que me toma como salvador pessoal, amigo mais íntimo, um maravilhoso confidente; uma forte, máscula e confiável mão que te ampara nos momentos de aflição e dúvidas existenciais.
Você me segue os passos, degusta minha insana poesia sem rimas, acompanha e “curti” meus posts com dedos pra lá de positivos. Você é meu “up”, meu prato principal, meu deleite no toque arisco do meu corpo por mim-eu-mesmo no “alone in the dark”.
Você me sustenta com teus elogios rasgados, ou apontando falhas viscerais que me forçam a aprimorar meus ideais artísticos enquanto safado contador de histórias, enquanto militante de uma causa mais do que justa, necessária, universal.
Você me desperta desejos, vontades que ainda insisto em sufocar, talvez por medo, talvez por não me sentir merecedor de uma nova chance para amar. Não, não sou a vítima da vez. Não tenho nada de derrotado quando assunto é “macho”. Longe disso. Apenas sinto que devo dar amor incondicional a todos os meus “homens” através da minha arte, da minha disposição em ser o Ouvido dos meus iguais. Esse é o pacto firmado sei lá com quem ou talvez com o belo que um dia existiu em mim. Esse é o ideal de uma tchonga redenção sei lá por qual motivo.
Ou, vai ver, sou “moasoquista” mesmo! (risos trêmulos)
Há dias e principalmente noites em que me assola a dor da desistência definitiva. Jogar tudo pro alto, esquecer do mundo colorido, e catar latinhas skol pelas ruas da grande cidade para garantir o sustento do meu sofrimento humilhado. Sufoco-me em choros e solidão, temendo não mais ser aceito por você, temendo que minhas linhas gritadas e chicheradas bambeenicas não mais te emocionem ou façam teu pau sorrir em desatino.
É verdade, esse papo tá despencando num “moasoquismo patétrico”!
Tô nem aí, como diz a canção bubblegum. Você sabe que meus despejos literários são impregnados de verdades. Nada temo naquilo que escrevo, pois é justamente nas porcas digitadas linhas no LibreOffice que revelo meu lado mais íntimo. Não há mistérios no meu ser. Tudo é cuspido nas tuas faces a todo instante!
A realidade das minhas tramas é algo patente. Adoro a mistura de horror e confusão que realizo com maestria na tua mente abobada. Onde está a realidade e o que é ficção no meu homoerotismo? Eu gargalho, pois adoro confundir e, algumas vezes, polemizar. E olha que ainda não publiquei um por cento do que ainda ganhará o abraço da Grande Rede.
Por que escrevo de Igual para Iguais? Porque ainda tenho muita hipocrisia para aniquilar.
Ah ah ah, não me aguento. Quem é o “moa” travestido de Hans, Monikas, Carls, Detlevs, Azul, Delicadas ou Jägger? Só os mais sensíveis têm o poder de sacar as diferenças da igualdade.
Chega. Deixe-me sozinho, deitado eternamente em berço esplêndido. Deixe-me sozinho a repousar a cabeça no meu segundo travesseiro; a sonhar com meu Jörn Tetzner utópico (utópico?). Sim, eu revelo a verdade. Ele existiu e não, ele não morreu. Apenas fugiu de si mesmo para não aceitar a realidade fundamentada entre nós.
Deixe-me sozinho. Estou me tornando repetitivo e desagradável. Deixe-me aqui a degustar meu lado moasoquista, onde amarro meus pulsos e minhas pernas com cordas náuticas, onde ato minha boca com o resto do tecido de seda que se molda incorreto sobre meu cavanhaque desalinhado.
Deixe-me sozinho no escuro, na esperança que a traveca da Inspiração torne a dar notícias. Deixe-me isolado no fundo do meu quarto, à meia-noite, à meia-luz, onde eu daria tudo por um modo de esquecer. Deixe-me acabar com mim-eu-mesmo na ducentésima punheta, enquanto sonho acordado com meu sulista alado, príncipe das flores, que um dia vai me resgatar do meu sei lá o que.
Eu sou “patétrico”, eu sei. Hoje estou no meu momento dramabear. Eu posso. Tenho cacife e autoridade para me travestir como eu quiser.
Deixe-me aqui, jogado ao lado da cama, a observar o segundo travesseiro, a ouvir the impossible dream pela enésima vez (Hartwig Schierbaum, eu te amo!), a olhar a única foto do meu último instante de felicidade, quando pus no palco meus meninos cantores, todos lindos, todos viris, todos sensuais e deliciosos... os únicos “garotos” que amarei por toda vida.
Deixe-me afogado na terceira garrafa de vinho barato – seco, sempre seco! – onde o rubro tinge meu espírito derrotado, onde o álcool evapora o resto da minha hilária sanidade.
Mas, por favor, não me abandone. Daqui algumas horas, ou amanhã, ou daqui trocentos anos... sei que vou parir meu filho mais ilustre; filho do meu príncipe das flores, meu último muso inspirador, filho que vai encantar o mundo e me elevar ao olimpo da bambeeairada, quando finalmente terei a honra de segurar o último báculo, cobrir meu corpo apetitoso com a grande manta repleta de brilho emanado das pedrarias de uma fama caquética, e sorver pela careca a grande coroa de espinhos e flores do campo... personificando assim meu lado PapaBambee XXIV...
... e assim serei eterno... e assim serei amado... e assim serei lembrado... e assim descansarei em paz, rumo ao princípio de tudo, onde serei avaliado pelos meus atos junto ao meu “povo”, talvez finalizando com glória e orgulho a minha longa jornada colorida, honrando a deliciosa opção que escolhi – livremente – em ser homem-mulher-macho-tudo-ao-mesmo-tempo por tantas e tantas existências.
Um dia você vai esquecer que existo. Mas jamais esquecerá o que deixei plantando em toscas linhas digitadas vagando na cloud, no afã do meu moasoquismo necessário!
Nenhum comentário:
Regras:
Todos os comentários serão lidos e moderados previamente;
Serão publicados os que respeitarem as seguintes regras:
- Seu comentário deve ter relação com o assunto do post;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo de seu comentário;
- Se quiser deixar sua URL, comente usando a opção OPEN ID;
- Comentários ofensivos a gênero, etnia ou opção sexual serão excluídos automaticamente.
OBS: Os comentários dos leitores não refletem necessariamente as opiniões do blog.